O domingo de (8/9/19) marcou a passagem do Dia Internacional da Alfabetização, data instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), no século passado (em 1966), para incentivar o pleno letramento da população internacional. Apesar da melhoria do acesso às escolas, nos últimos 53 anos em diversos países, ainda existem em todo planeta 750 milhões de jovens e adultos que não sabem ler nem escrever.
Se
todas essas pessoas morassem em um único país, a população só seria inferior a da
China e
da Índia,
que têm cada uma mais de 1 bilhão de habitantes. A nação hipotética do
analfabetismo tem mais do que o dobro de toda a
população dos Estados Unidos. Nesse contingente,
duas de cada três pessoas que não sabem ler são mulheres.
Ainda
segundo a Unesco, o problema do analfabetismo perdurará por muito tempo.
No ano
passado, 260 milhões de crianças e adolescentes não estavam matriculados nas
escolas. De acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGe), em 2018, havia
11,3 milhões
de pessoas
analfabetas com 15 anos ou mais de idade. Se todos residissem
na mesma
cidade, este lugar só seria menos populoso que São Paulo – a capital paulista tem população estimada de 12,2 milhões.
A
taxa do chamado “analfabetismo absoluto” no Brasil é de 6,8%. Como ocorre com os
dados Internacionais, o analfabetismo não atinge a todos da
mesma forma. “Na análise por cor ou
raça, em 2018, 3,9% das pessoas de 15 anos ou mais - de cor branca - eram
analfabetas, percentual que se eleva para 9,1% entre pessoas de cor preta ou
parda. No grupo
etário 60
anos ou mais, a taxa de analfabetismo das pessoas de cor branca
alcança
10,3%
e,
entre as pessoas pretas ou pardas, amplia-se para 27,5%”, descreve nota do IBGE.
Netos e avós
Segundo
os pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil, o volume de analfabetos é
bastante alto e não diminui por falta de investimentos na Educação de Jovens e
Adultos (EJa).
“Para
um gestor público, prefeito, governador, interessa muito mais investir em educação
básica,
não na Educação de Jovens e Adultos, porque é uma parcela muito pequena”,
critica Maria do Rosário Longo Mortatti,
professora titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp)
e também presidente emérita da Associação Brasileira de Alfabetização. Segundo
ela,
o investimento no EJA é “secundarizado”. Por trás
desse comportamento, há antigo raciocínio entre gestores públicos de que a
“dinâmica
demográfica”, com a renovação das gerações, extinguiria o analfabetismo
absoluto no passar dos anos, conforme lembra Maria Clara Di Pierro, professora
de Educação da Universidade de
São Paulo (USP), especializada em políticas públicas de jovens e adultos.
“Esse
raciocino não é novo. O ex-ministro [da educação] já falecido Paulo Renato usava
muito esse
argumento, dizendo ‘vamos concentrar os nossos esforços nas novas gerações. A sucessão geracional se encarregará
de eliminar o analfabetismo’. Alguns pesquisadores e jornalistas compartilham essa
visão, mas ela é duplamente equivocada”, aponta.
“De
um lado, porque a gente continua produzindo analfabetismo, não se trata apenas
de um
resíduo do passado e os idosos estão vivendo mais.
De
outro
lado, nós temos o analfabetismo funcional
mediado pelo sistema educativo. Então, essa esperança ‘vamos
deixar os
velhinhos morrerem para acabar com o problema’ é uma ilusão, e não faz frente
ao que
temos de enfrentar”, complementa Di Pierro.
A mesma
visão tem a professora Francisca Izabel Pereira Maciel, diretora do Centro
de Alfabetização,
Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Minas Gerais
(UFMG). Ela ressalta que o poder público “não pode descuidar do analfabetismo
absoluto” e que “é direito das pessoas aprender a ler e escrever”.
Ainda
que o analfabetismo absoluto atinja predominantemente os mais idosos, a
professora Francisca Izabel salienta que em muitas famílias são os avós que
cuidam dos netos enquanto os pais trabalham. A falta de escolaridade entre os
mais velhos dificulta o acompanhamento escolar e pode desestimular o interesse
pelos estudos entre os mais novos.
Fonte: Revista NOVA Concursos ATUALIDADES
–
2019-2020.
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